“Mesmo
na cadeira, pretendo conhecer a Arena”
O acidente de trabalho sofrido por Ayrton Costa, 42 anos, foi um duro
golpe em sua vida. A paraplegia provocada por uma queda de 7 metros não tira o
brilho no olhar de um gremista ferrenho que apesar das dificuldades, só pensa
em um dia voltar a entoar cânticos e gritar pelo seu time do coração nas
arquibancadas. Mas esse não foi o primeiro drama na vida deste guerreiro.
A mudança
nos rumos da vida
Um ano antes da fatalidade, em
2005, ele sofrera dois graves acidentes, ambos em Taquara. “No primeiro estava bêbado, sozinho e sem cinto, caí de um barranco de uns
5, 6 metros, mas nada me aconteceu, só o carro que deu perda total”.
O seu querido
Santana Quantum fora substituído por uma caminhonete meses mais tarde, no
entanto, o destino quis que o novo carro, tivesse o mesmo destino do antigo.
“Foi em um sábado às 3 horas da manhã, voltando de uma festa, estava chovendo e
fui passar de uma pista para a outra, perdi o controle do carro. Como estava em
alta velocidade, não tive como evitar, capotei, mas sem nenhum ferimento.”
A
rotina do gremista apaixonado de Taquara mudou drasticamente há seis anos. Ele
confessa que no dia do acidente estava sem equipamento de segurança montando
um pavilhão metálico a cerca de 7 metros do chão, questionado quanto à
negligência de trabalhar sem nenhum tipo de proteção, Ayrton revela: “minha empresa não me
ofereceu nenhum tipo de suporte e ainda quando indagado sobre meu acidente, meu
chefe simplesmente disse que eu não quis utilizar os equipamentos devidos”.
O
acidente custou duas
fraturas na coluna causando paraplegia e deixando movimentos apenas nos braços
e cabeça, levando-o a ser mais um entre os 28 milhões de brasileiros com algum
tipo de deficiência, segundo dados do IBGE.
A triste realidade
Sem dinheiro e inválido,
ele se viu obrigado a morar em uma casa com sua mãe e seus dois sobrinhos, e se
vendo à custa da aposentadoria que não cobre todos os gastos, Ayrton passa por
imensas dificuldades. Como passa a grande maioria de seu dia em uma cama
hospitalar adaptada em sua casa, Ayrton contraiu escaras, um tipo de inflamação
que ocorre quando não há movimentação dos membros do corpo, logo, seus
cotovelos e glúteos estão terrivelmente castigados.
Além disso, ele luta
constantemente contra as constantes infecções urinárias que tem. “Elas
acontecem subitamente, pois como não tenho sensibilidade do mamilo para baixo,
tenho de fazer minhas necessidades por meio de sondas e isso implica em muitas
complicações”. Para minimizar as dores, sua família comprou uma cadeira de
rodas para que ele pudesse ao menos ficar sentado assistindo aos jogos do seu
time de coração e pudesse ter um melhor conforto.
A paixão pelo Grêmio
Apesar de não ter condições
hoje de ir aos jogos do Grêmio, em Porto Alegre, Ayrton ostenta o sonho de pisar
na nova casa gremista. “Pretendo voltar o quanto antes aos estádios, mesmo
estando na cadeira, quero conhecer a Arena”. A leitura e o Facebook são os seus
grandes passatempos, e eles estão interligados entre o seu presente e futuro. A
partir da rede social, Ayrton conheceu uma mulher, que segundo ele, mudou sua
vida. “Camarada não acreditava mais no amor, mas em abril conheci alguém muito
especial, sabe de todos os meus problemas e sabe como agir, além de ter muito
respeito por mim”.
Planos para o futuro
Com o relacionamento, ele
decidiu por escrever um livro, tendo-o como personagem principal, contando
sobre as dificuldades diárias do seu tratamento. Ele complementa: “não tenho
grandes objetivos na vida profissional, quanto menos para o futuro, mas
escrever, é algo fascinante, quero expor ao mundo as dificuldades e
preconceitos que um paraplégico enfrenta todos os dias”. Ele ainda não tem nome
para o seu livro, mas o empenho de sua companheira e o dele, certamente fará
com que Ayrton renove-se e jamais perca a crença que nem tudo está perdido e é
possível ser feliz, independente das circunstâncias.