Garrincha, o gênio das pernas tortas era imortalizado em terras
andinas.
Djalma Santos, Zito, Gilmar, Zózimo, Nilton
Santos e Mauro (em pé). Garrincha, Didi, Vavá, Amarildo e Zagallo (agachados).
Esta era a equipe que levaria o Brasil ao bi.
A Copa do Chile trazia grandes
perspectivas à nação brasileira. Eufórica pelo campeonato de 58, a seleção
embarcou rumo aos Andes com a certeza de que a Taça Jules Rimet voltaria na
mala. E foi exatamente o que aconteceu. O bicampeonato mundial da seleção
canarinho acontecia exatamente há 50 anos, o dia 17 de junho de 1962 coroou a
equipe que viu Garrincha suprir com majestosas apresentações, a ausência de
Pelé, machucado.
O sentimento era de uma seleção
imbatível. Jogadores como Pelé, Garrincha, Vavá e Amarildo assombravam as zagas
adversárias. O primeiro jogo fora vencido sem maiores dificuldades por 2x0
frente ao selecionado mexicano com gols de Pelé e Zagallo. No entanto, o 2°
jogo mudaria os rumos da história daquele mundial.
Pelé se contunde e surge a estrela de
Garrincha
Pelé
no momento da contusão
Ainda no 1° tempo contra a antiga
Tchecoslováquia, Pelé sentiu uma lesão na coxa direita, que o deixaria de fora
do resto do campeonato. Como ainda não era permitida a substituição de
jogadores, o Rei se arrastava em campo. O jogo acabou 0x0, e os torcedores,
apreensivos. Hildebrando Costa, portoalegrense então com 29 anos, conta um
pouco do sentimento naquele dia. “Quando Pelé se lesionou, lembro que todos
estavam apreensivos, apesar de termos Garrincha, Zito e Didi, ninguém
acreditava no bi sem ele”. Porém, o “anjo das pernas tortas” ditaria o ritmo
dali por diante.
Logo no jogo seguinte, Garrincha
foi brilhante ao ajudar Amarildo, o substituto do Rei, marcando os dois gols da
vitória por 2x1 contra a Espanha, em jogo marcado pela genialidade da
“Enciclopédia do futebol” Nilton Santos, que ao cometer pênalti, deu um passo
para fora da grande área, enganando o juiz, que assinalou falta para os
espanhóis. O Brasil estava classificado as quartas e enfrentaria a poderosa
Inglaterra, que quatro anos mais tarde, também se sagraria campeã mundial.
O
drible desconcertante em Garrincha
Os espectadores do estádio
Sausalito, em Viña do Mar, viram um baile naquela tarde. Garrincha colocou para
dançar a zaga inglesa durante os 90 minutos. O que era para ser um jogo de
extrema dificuldade fora reduzido a um show inesquecível na memória de Hildebrando. “Gostava muito de vê-lo jogar no
Botafogo, mas o que o “anjo” fez naquele dia, jamais me esquecerei, os ingleses
até hoje estão procurando a bola”, brinca. Garrincha duas vezes e Vavá
garantiram a vaga nas semifinais, com Hitchens descontando para os ingleses.
O que ficará marcado para todo o
sempre naquele dia foi a invasão de um cachorro no gramado. O Chile é
reconhecido mundialmente por ter muitos cães vivendo nas ruas, pois estes são
sensíveis a abalos sísmicos e podem prever tais tragédias. Eis que um desses
invadiu e rodou o campo inteiro correndo, todos tentavam pegar o cachorro, sem
sucesso.
Antônio da Silva, gaúcho de
Taquara, aos 80 anos ainda é nostálgico quanto ao acontecimento. “Garrincha foi
tentar pegar o cachorro e tomou um drible capaz de causar inveja a qualquer
amante do futebol, foi demais!” exalta.
Até que Garrincha foi de encontro
a ele e tomou um drible capaz de causar inveja a qualquer amante do futebol.
Assim como entrou, o cão saiu, sem que ninguém o capturasse, causando
verdadeiro alvoroço no público que se divertia com a situação.
Cautela nas semifinais contra os donos da
casa
Viña del Mar que acompanhava a
seleção desde o início da competição agora dava lugar a Santiago. O Brasil enfrentaria o Chile, de
olho na vaga as finais. Toda a precaução era necessária para esse jogo. Com
medo de fraudes e infecções intestinais causadas por sabotagens, os médicos da
seleção se recusaram a oferecer aos jogadores comida e bebida disponíveis no
hotel, sendo eles mesmo responsáveis pela compra e produção dos alimentos aos
jogadores.
A partida disputada no estádio
Nacional na capital chilena tinha ares de decisão. Os torcedores locais,
grandes admiradores do futebol tupiniquim, se viam em uma tarde melancólica. “A
expectativa dos chilenos era de encontrar o Brasil na final, e não antes, por
isso, um sentimento de tristeza tomava conta do país naquele dia”, ressaltou
Hildebrando. Iniciada a partida,
Garrincha foi caçado, hostilizado, intimidado e intimado pela zaga chilena que
não tinha pena de bater sem pudor.
Ainda sim, marcou duas vezes, com Vavá e
Amarildo completando a goleada de 4x2. No término da partida, cansado das
agressões sofridas, Mané Garrincha revidou desferindo um soco em seu adversário
sendo expulso e causando posteriormente, uma das maiores polêmicas da história
das Copas. Agora, o Brasil teria pela frente novamente a Tchecoslováquia.
Manobras políticas nos bastidores e Garrincha na final
Acabada a partida, os dirigentes brasileiros,
indignados em ver Garrincha apanhar durante os 90 minutos e vê-lo expulso por
revidar, foram de encontro ao arbitro, na saída para o túnel. O peruano Arturo
Yamazaki se viu num beco sem saída. Os cartolas brasileiros subornaram o juiz,
desaparecendo com a súmula e assim, Garrincha, “liberado” para jogar a
finalíssima.
A consagração da geração de 58 no Chile
O capitão Mauro repete o gesto
de Bellini em 58
Aquele 17 de junho ficará marcado
na memória, ao menos de Ayrton Souza. Oriundo da capital, ele conclui: “Era pequeno,
tinha oito anos, minha primeira Copa, foi uma emoção ouvir as narrações
fantásticas daquela final”.
Pelé tinha remotas chances de
ajudar naquela tarde, mas não o fez, a lesão não curou e povo brasileiro
creditava suas esperanças no gênio das pernas tortas. Em uma final difícil, no mesmo estádio
Nacional, e com a Tchecoslováquia abrindo o placar, coube a Garrincha reerguer
a seleção, em um dia que tudo parecia perdido. Auxiliando nas jogadas
ofensivas, deixando adversários estupefatos caídos no chão, Mané construiu as
jogadas dos três gols marcados por Amarildo, Zito e Vavá, virando o jogo para
um espetacular 3x1. Os chilenos eufóricos vibravam com a atuação canarinho,
conta Hildebrando.” Nunca havia visto até aquele momento, tamanho apoio de uma
torcida local, tanto na Suécia em 58, quanto no México posteriormente, eles
vibravam como se não houvesse amanhã”.
Coube a Mauro, capitão da seleção
levantar a taça e escrever mais um capítulo de glórias daquela geração. Muitos
deles, jamais repetiram grandes atuações. Garrincha fora um deles. Destruído
pelo álcool, ele encerrou a carreira cedo, cabendo a geração de Rivelino e
Gérson, comandados pelo Rei, recolocar o Brasil no topo do mundo em 70.
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