segunda-feira, 18 de junho de 2012

Há 50 anos, Brasil conquistava o bi mundial no Chile


Garrincha, o gênio das pernas tortas era imortalizado em terras andinas.



Djalma Santos, Zito, Gilmar, Zózimo, Nilton Santos e Mauro (em pé). Garrincha, Didi, Vavá, Amarildo e Zagallo (agachados). Esta era a equipe que levaria o Brasil ao bi.

A Copa do Chile trazia grandes perspectivas à nação brasileira. Eufórica pelo campeonato de 58, a seleção embarcou rumo aos Andes com a certeza de que a Taça Jules Rimet voltaria na mala. E foi exatamente o que aconteceu. O bicampeonato mundial da seleção canarinho acontecia exatamente há 50 anos, o dia 17 de junho de 1962 coroou a equipe que viu Garrincha suprir com majestosas apresentações, a ausência de Pelé, machucado.

O sentimento era de uma seleção imbatível. Jogadores como Pelé, Garrincha, Vavá e Amarildo assombravam as zagas adversárias. O primeiro jogo fora vencido sem maiores dificuldades por 2x0 frente ao selecionado mexicano com gols de Pelé e Zagallo. No entanto, o 2° jogo mudaria os rumos da história daquele mundial.       
                                        
                                  Pelé se contunde e surge a estrela de Garrincha

                                   
                                              Pelé no momento da contusão

Ainda no 1° tempo contra a antiga Tchecoslováquia, Pelé sentiu uma lesão na coxa direita, que o deixaria de fora do resto do campeonato. Como ainda não era permitida a substituição de jogadores, o Rei se arrastava em campo. O jogo acabou 0x0, e os torcedores, apreensivos. Hildebrando Costa, portoalegrense então com 29 anos, conta um pouco do sentimento naquele dia. “Quando Pelé se lesionou, lembro que todos estavam apreensivos, apesar de termos Garrincha, Zito e Didi, ninguém acreditava no bi sem ele”. Porém, o “anjo das pernas tortas” ditaria o ritmo dali por diante.

Logo no jogo seguinte, Garrincha foi brilhante ao ajudar Amarildo, o substituto do Rei, marcando os dois gols da vitória por 2x1 contra a Espanha, em jogo marcado pela genialidade da “Enciclopédia do futebol” Nilton Santos, que ao cometer pênalti, deu um passo para fora da grande área, enganando o juiz, que assinalou falta para os espanhóis. O Brasil estava classificado as quartas e enfrentaria a poderosa Inglaterra, que quatro anos mais tarde, também se sagraria campeã mundial.
                                                 
                                              O drible desconcertante em Garrincha

                                              

Os espectadores do estádio Sausalito, em Viña do Mar, viram um baile naquela tarde. Garrincha colocou para dançar a zaga inglesa durante os 90 minutos. O que era para ser um jogo de extrema dificuldade fora reduzido a um show inesquecível na memória de  Hildebrando. “Gostava muito de vê-lo jogar no Botafogo, mas o que o “anjo” fez naquele dia, jamais me esquecerei, os ingleses até hoje estão procurando a bola”, brinca. Garrincha duas vezes e Vavá garantiram a vaga nas semifinais, com Hitchens descontando para os ingleses.

O que ficará marcado para todo o sempre naquele dia foi a invasão de um cachorro no gramado. O Chile é reconhecido mundialmente por ter muitos cães vivendo nas ruas, pois estes são sensíveis a abalos sísmicos e podem prever tais tragédias. Eis que um desses invadiu e rodou o campo inteiro correndo, todos tentavam pegar o cachorro, sem sucesso.

Antônio da Silva, gaúcho de Taquara, aos 80 anos ainda é nostálgico quanto ao acontecimento. “Garrincha foi tentar pegar o cachorro e tomou um drible capaz de causar inveja a qualquer amante do futebol, foi demais!” exalta.

Até que Garrincha foi de encontro a ele e tomou um drible capaz de causar inveja a qualquer amante do futebol. Assim como entrou, o cão saiu, sem que ninguém o capturasse, causando verdadeiro alvoroço no público que se divertia com a situação.
                                       
                                 Cautela nas semifinais contra os donos da casa

Viña del Mar que acompanhava a seleção desde o início da competição agora dava lugar a  Santiago. O Brasil enfrentaria o Chile, de olho na vaga as finais. Toda a precaução era necessária para esse jogo. Com medo de fraudes e infecções intestinais causadas por sabotagens, os médicos da seleção se recusaram a oferecer aos jogadores comida e bebida disponíveis no hotel, sendo eles mesmo responsáveis pela compra e produção dos alimentos aos jogadores.

A partida disputada no estádio Nacional na capital chilena tinha ares de decisão. Os torcedores locais, grandes admiradores do futebol tupiniquim, se viam em uma tarde melancólica. “A expectativa dos chilenos era de encontrar o Brasil na final, e não antes, por isso, um sentimento de tristeza tomava conta do país naquele dia”, ressaltou Hildebrando.  Iniciada a partida, Garrincha foi caçado, hostilizado, intimidado e intimado pela zaga chilena que não tinha pena de bater sem pudor. 

Ainda sim, marcou duas vezes, com Vavá e Amarildo completando a goleada de 4x2. No término da partida, cansado das agressões sofridas, Mané Garrincha revidou desferindo um soco em seu adversário sendo expulso e causando posteriormente, uma das maiores polêmicas da história das Copas. Agora, o Brasil teria pela frente novamente a Tchecoslováquia.

                            Manobras políticas nos bastidores e Garrincha na final
 Acabada a partida, os dirigentes brasileiros, indignados em ver Garrincha apanhar durante os 90 minutos e vê-lo expulso por revidar, foram de encontro ao arbitro, na saída para o túnel. O peruano Arturo Yamazaki se viu num beco sem saída. Os cartolas brasileiros subornaram o juiz, desaparecendo com a súmula e assim, Garrincha, “liberado” para jogar a finalíssima.
                                  
                                        A consagração da geração de 58 no Chile

                            
                                   O capitão Mauro repete o gesto de Bellini em 58

Aquele 17 de junho ficará marcado na memória, ao menos de Ayrton Souza. Oriundo da capital, ele conclui: “Era pequeno, tinha oito anos, minha primeira Copa, foi uma emoção ouvir as narrações fantásticas daquela final”.

Pelé tinha remotas chances de ajudar naquela tarde, mas não o fez, a lesão não curou e povo brasileiro creditava suas esperanças no gênio das pernas tortas. Em uma final difícil, no mesmo estádio Nacional, e com a Tchecoslováquia abrindo o placar, coube a Garrincha reerguer a seleção, em um dia que tudo parecia perdido. Auxiliando nas jogadas ofensivas, deixando adversários estupefatos caídos no chão, Mané construiu as jogadas dos três gols marcados por Amarildo, Zito e Vavá, virando o jogo para um espetacular 3x1. Os chilenos eufóricos vibravam com a atuação canarinho, conta Hildebrando.” Nunca havia visto até aquele momento, tamanho apoio de uma torcida local, tanto na Suécia em 58, quanto no México posteriormente, eles vibravam como se não houvesse amanhã”.

Coube a Mauro, capitão da seleção levantar a taça e escrever mais um capítulo de glórias daquela geração. Muitos deles, jamais repetiram grandes atuações. Garrincha fora um deles. Destruído pelo álcool, ele encerrou a carreira cedo, cabendo a geração de Rivelino e Gérson, comandados pelo Rei, recolocar o Brasil no topo do mundo em 70.

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